Proposta curricular de ensino de filosofia no ensino médio

terça-feira, 5 de julho de 2011 0 comentários
Esta proposta segue os seguintes princípios:
- Não pretende ser a melhor, exclusiva e definitiva. A pretensão é oferecer aos professores do Ensino
Médio um norte que sirva para facilitar seu (difícil) ofício.
- Compreende os três anos do Ensino Médio como uma unidade que deve contemplar toda a história
da Filosofia - Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea - (em linhas gerais) e suas subáreas mais
relevantes: metafísica, ética, estética, teoria do conhecimento, lógica e política.
- Vincular História da Filosofia e questões temáticas. Em cada bimestre é focado um período da História
da Filosofia e, a partir deste, destacado alguns poucos temas/conceitos.
- A divisão dos conteúdos da História da Filosofia nos 12 bimestres prioriza o período Antigo e o Contemporâneo
mais do que o Medieval e Moderno, pois compreende que o Antigo é a base de toda
nossa ocidental forma de pensar e o Contemporâneo diz respeito ao mundo em que efetivamente
vivemos.
Metodologia:
- O método utilizado deve trazer a reflexão filosófica para o universo conhecido e familiar dos alunos,
estimulando-os a refletir sobre as questões filosóficas a partir do seu cotidiano. Desse modo, o universo
tão distante, abstrato e complexo da filosofia torna-se mais próximo, mais acessível e, por isso,
muito mais interessante aos alunos;
- A extensão do conteúdo não deve ser grande, pois é preciso haver tempo suficiente para aprofundar
as várias questões que sempre aparecem. É fundamental esclarecer o conteúdo apresentado,
caso contrário o estudo torna-se uma espécie de “decoreba”, o que é justamente o oposto do que se
pretende.
- Mais do que transmitir um determinado conteúdo cognitivo, a prioridade é despertar o pensamento
crítico, questionador e argumentativo; despertar o olhar “metafísico”, que vai além das aparências,
um olhar que busca compreender a existência, o homem, a vida, o universo; estimular a habilidade
de analisar e interpretar textos/discursos/ realidades – sejam de ilustres filósofos ou de personagens
desconhecidos. Ou seja, o mais importante não é o aprendizado deste ou daquele conteúdo
filosófico, é, sim, desenvolver a capacidade de reflexão crítica. A ênfase está na forma do modo de se
pensar e não no conteúdo do pensamento.
OBS:
- O planejamento de cada um dos 3 anos é feito por bimestres, já que as avaliações devem ser bimestrais
segundo as regras atuais do Ensino. Portanto o planejamento para cada ano será em 4 bimestres
e o Curso inteiro do Ensino Médio em 12 bimestres. Se por acaso as regras mudarem e, por
exemplo, as avaliações tornarem-se trimestrais, terá que haver uma adaptação nesta Proposta Curricular.

Proposta Curricular de Ensino de Filosofia no Ensino Médio

1º NÍVEL
E M E N T A
FILÓSOFOS
CONTEÚDOS
OBJETIVOS
ÁREAS
1º Bimestre
A questão:
O que é filosofia?
Todos de modo geral
1- Mostrar a diferença entre um discurso racional, lógico, argumentativo (filosofia, enquanto pensamento lógico, é ciência) e um discurso poético ou mágico-religioso (exe: as lendas e mitos populares)
2- Apresentar diferentes discursos: da filosofia (visão de mundo), da ciência, da arte e da religião.
Diferenciar vários modos de pensar, sobretudo, o pensamento racional, lógico, e o pensamento mítico, mágico-religioso; elucidar os conceitos de filosofia, ciência, arte e religião, apontando o parentesco entre eles.
Metafísica
2º Bimestre
Natureza (physis)
e convenção (nomos) -
os pré-socráticos e os sofistas
Tales, Heráclito e Protágoras
(VI – V a.C)
1- os primeiros filósofos buscam o princípio na physis (natureza/universo/ totalidade):
Tales:“A água é o princípio de todas as coisas” -  inaugura a filosofia porque: fala da natureza, da água, e não de um deus); busca o princípio (arché), o fundamento primeiro de tudo que existeas coisas e porque trata da totalidade, physis, vê todas as coisas como um conjunto, uma unidade, “Tudo é Um” 
- Frag. de Heráclito “Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio...” – afirma que a natureza (physis), o universo, a realidade está em devir (processo constante de vir-a-ser, de movimento) (Cf. música Lulu Santos); Fr.“Da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia” (como o YIN e Yang do taoísmo);
2- Os sofistas – rompem com os pré-socráticos; consideram que as leis que regem o universo humano não vêm da physis, são leis humanas (nomos), por isso valorizam o discurso, a retórica e a persuasão
- Protágoras “O homem é a medida de todas as coisas” – seu ponto de partida do discurso e do conhecimento é o homem, não mais o divino.
Refletir sobre a relação Homem – Natureza; diferenciar o olhar pré-socrático, que busca decifrar a natureza na sua totalidade, e o olhar do sofista, totalmente focado na realidade humana; esclarecer os conceitos: physis, arché, devir, nómos e persuasão.
Filosofia Antiga e Metafísica
1º NÍVEL
T E M A S
FILÓSOFOS
CONTEÚDOS
OBJETIVOS
ÁREAS
3º Bimestre
A diferença entre conhecimento e opinião - em Platão
Sócrates e Platão (V - IV a.C)
Sócrates:
- apresentar Sócrates a partir do diálogode Platão Apologia de Sócrates, sua vida e sua condenação à morte; trabalhar a frase "só sei que nada sei" – Sócrates é o mais sábio dos homens, pois tem consciência de sua ignorância;
Platão:
a) a passagem da República que trata do "mito da caverna" (cf. Aranha, cap. 10)
b) passagem do Teeteto, o diálogo com Protágoras sobre o vento que passa - se é frio ou quente.
Apresentar Sócrates; esclarecer os conceitos platônicos de opinião (dóxa) e conhecimento (epistéme), sensível (o que é apreendido pelos sentidos) e inteligível (o que é “visto” pela razão).
Filosofia Antiga e Teoria do Conhecimento 
4º Bimestre
Lógica aristotélica
Aristóteles (IV a.C)
Esclarecer os princípios básicos da lógica aristotélica: as proposições gerais e as particulares, premissas, conclusão, os dois tipos básicos de argumento – dedução e indução -, a diferença entre validade (trata da inferência, pode ser válida ou não) e verdade (correspondência entre o discurso e a realidade, os fatos).
Apresentar os conceitos básicos e as regras da lógica clássica visando estimular a habilidade de construir raciocínios com argumentos logicamente encadeados.
Lógica
2º NÍVEL
T E M A S
FILÓSOFOS
CONTEÚDOS
OBJETIVOS
ÁREAS
5º Bimestre
Filosofia e política na Idade Média(V- XV)
St. Agostinho
(IV-V)
e
um filósofo
político
1-no período da patrística (St. Agostinho (IV-V))e da escolástica (St. Tomás de Aquino (1225-1274)) havia o predomínio da fé sobre a razão, a filosofia seguia a teologia, a verdade não vem da razão, vem da fé em Deus. Nesse caso, a verdade aparece como absoluta, eterna, divina (Aranha, cap. 10). St. Agostinho: “Creio para que possa entender” – mostra que a fé vem primeiro e a razão a acompanha depois.
2- abordar, no plano político, a disputa pelo poder entre a Igreja e o Estado, o rei;esclarecer que através do “princípio da autoridade” a Igreja controlava também o saber, o conhecimento, os livros eram seus; esclarecer o que foi o “Santo Ofício”.
Diferenciar o conceito de verdade absoluta, divina e inquestionável, da noção de “perspectiva”, sempre singular, humana e questionável; despertar a reflexão política; esclarecer as relações de poder da Igreja com o Estado durante a Idade Média.
Filosofia Medieval e Filosofia Política

6º Bimestre
Revolução científica e renovação política (XVI - XVII)
Francis Bacon (1561-1626),
Galileu Galilei (1564-1642),
Jonh Locke (1632-1704)
1- O ressurgimento da razão e do espírito científico no renascimento; Giordano Bruno (XVI) e sua ideia de um universo Infinito e em constante mutação (foi condenado pela Inquisição à fogueira), Nicolau Copérnico (1473-1543) e sua hipótese de que o sol é o centro do universo. Galileu inaugura um novo paradigma de ciência - calcada na matematização, observação e experimentação, valoriza a técnica (exe:telescópio); não pergunta mais pelo “porquê”, mas pelo “como”, em vez de qualidades, quantidades (Cf. Aranha, cap. 13);
2- mostrar as mudanças políticas desse período: a Igreja perde o poder político, o Estado ganha autonomia, a burguesia ganha espaço, surgem as teorias políticas Liberais
- esclarecer em Locke: estado de natureza (os indivíduos isolados), contrato social e sociedade civil
- apontar para as várias revoluções decorrentes dessas mudanças: Revolução Puritana (1650), Revolução Gloriosa (1688), Independência dos Estados Unidos (1776), Revolução Francesa (1789) (Cf.Aranha, cap. 18-19).
Esclarecer que: nos séculos XVI e XVII, houve uma revolução no modo de o homem ver o Universo e no modo de ver a si mesmo e a ciência moderna se separou da fé e da filosofia; elucidar a nova teoria Liberal e apontar para  teorias críticas ao liberalismo
Filosofia Moderna e Filosofia Política.
2º NÍVEL
T E M A S
FILÓSOFOS
CONTEÚDOS
OBJETIVOS
ÁREAS
7º Bimestre
A questão: qual é o método que garante a certeza da ciência?
René Descartes (1596-1650), e David Hume (1711-1776)
- Pôr a questão: o conhecimento (produto da relação sujeito-objeto) se funda nos objetos, percebidos pelos sentidos, ou na razão? qual é o método (hodós, caminho) que produz o conhecimento verdadeiro? Qual é o critério de certeza capaz de assegurar que a teoria corresponde aos fenômenos?
- Racionalismo cartesiano: Descartes, a dúvida como método, sua verdade indubitável: “Penso, logo existo”; sua teoria das idéias inatas, idéias claras e distintas; distinção entre res cogitans e res extensa – dualidade corpo-alma
- Empirismo: Francis Bacon – a valorização da indução, LocKe: todo conhecimento vem da sensação; Hume...(Aranha, cap.10).
Diferenciar o racionalismo e o empirismo; problematizar a noção de certeza, verdade, conhecimento científico; apontar para a influência da dualidade cartesiana na cultura ocidental, inclusive na nossa cultura brasileira.
Filosofia Moderna e Teoria do Conhecimento.
8º Bimestre
As críticas à metafísica em nome da razão - Iluminismo (XVIII) e positivismo (XIX)
Voltaire (), Emanuel Kant (1724-1804) e Augusto Comte(1798-1857)
- Características principais do Iluminismo no séc XVIII: fortalecimento do capitalismo; revolução industrial;
- Voltaire:
- Kant - Crítica à metafísica em nome da razão; crítica ao “sono dogmático” dos filósofos que pretendem enunciar verdades metafísicas; diferença entre a coisa-em-si e o fenômeno; realiza a “revolução copernicana”;
Comte: a lei dos 3 estados.
Esclarecer que, para os filósofos iluministas e positivistas, a razão – que põe a si própria seus limites - é enaltecida, a ciência é valorizada como a única forma de produzir conhecimento e  as questões metafísicas passam a ser meras especulações.
Filosofia Moderna e Metafísica
3º NÍVEL
T E M A S
FILÓSOFOS
CONTEÚDOS
OBJETIVOS
ÁREAS
9º Bimestre


A crise da razão no início do séc. XX

Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Sigmund Freud (1856-1939)
- Mostrar que, na virada do séc. XX, vários filósofos e cientistas são críticos da razão “positivista”, cuja pretensão é fundar uma ciência exata, correta, imparcial e verdadeira; para eles, há elementos não racionais que influenciam ou mesmo determinam a forma de o homem pensar e agir
Nietzsche: “
Freud: o homem não é um ser comandado por sua razão, sua consciência, seu comportamento é bastante influenciado pelos seus afetos que o influenciam de modo inconsciente.

Esclarecer as críticas à pretensão de o homem através de sua suposta razão infalível encontrar uma verdade absoluta; elucidar a concepção de que a ciência é apenas uma teoria humanamente construída sobre a realidade e que nada garante sua verdade; o conceito de homem como “animal racional” dá lugar a outros conceitos: homem – “criador de valores”, mostrar a valorização dos conceitos de instinto, corpo, singularidade, diferença, historicidade e perspectivismo;  Filme: A janela da alma.
Filosofia Contemporânea e Ética
3º NÍVEL
T E M A S
FILÓSOFOS
CONTEÚDOS
OBJETIVOS
ÁREAS
10º Bimestre
no século XX
Artistas ?
Ferreira Gullar, Poeta brasileiro, Walter Benjamim??
- Esclarecer que na história da filosofia a arte foi bastante criticada, como em Platão que, na República, expulsou o poeta; a arte era depreciada, pois estava vinculada ao sensível e particular; a imaginação do artista era depreciada, pois não conduzia à verdade inteligível e universal; arte significava mímesis, imitação da natureza, era apenas uma cópia de algo, uma representação
- apresentar a diferença entre a “estética normativa”, racionalista (a razão predomina sobre a intuição, a imaginação, os sentimentos) dos séc. XVII e XVIII, e a estética do Romantismo– XVIII/XIX – que valoriza a imaginação criadora, a inspiração genial, a intuição, os sentimentos(Aranha, cap. 33)
- apresentar a ruptura do conceito de arte como imitação, representação, trazida pelos movimentos da arte moderna que rompem com naturalismo
- apresentar imagens de pinturas modernas e contemporâneas – sobretudo Kandinsky – mostrando a nova forma de fazer arte, sem referência exterior. (Cf. Gullar, Ferreira, Sobre arte in Aranha, cap.33)
???- a partir das idéias de Benjamim, em A obra de arte na sua reprodutibilidade técnica, esclarecer as questões relativas à reprodução técnica das obras de arte.
Esclarecer a mudança do conceito de arte (deixa de ser imitação, representação); elucidar conceitos (sensibilidade, criação, imaginação, intuição, sentimento, genialidade) e questões relativos à arte; através da apresentação das pinturas, propiciar uma experiência estética e estimular uma reflexão sobre o que esta.
Filosofia Contemporânea e Estética
3º NÍVEL
T E M A S
FILÓSOFOS
CONTEÚDOS
OBJETIVOS
ÁREAS
11º Bimestre
Os principais
acontecimentos do século XX
(ou os principais filósofos do século XX)
-
- Esclarecer diferentes formas de governo: monarquia, tirania, oligarquia, democracia, ditadura etc...
Promover o debate e a reflexão sobre: as principais
características e problemas da vida moderna e os malefícios e benefícios do sistema capitalista; esclarecer diferentes teorias políticas (marxismo, socialismo, liberalismo etc) e diferentes formas de governo (democracia, totalitarismo etc)
Filosofia
Contemporânea
e
Filosofia política.

12º Bimestre
Ecologia e ética  no século XXI
-



- Proporcionar o pensamento crítico dos alunos com relação aos problemas ambientais e sociais que o mundo contemporâneo enfrenta;
Promover o debate e a reflexão sobre: o modo como o
homem vem tratando a natureza, os benefícios e malefícios trazidos pelo “progresso” cientifico e tecnológico;
elucidar o que é uma concepção ecológica da vida
Ética

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